Síria: ataques não devem afetar máquina de guerra de Assad, dizem especialistas

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Os ataques aéreos ocidentais tendo como alvo instalações de armas químicas da Síria não prejudicarão fundamentalmente uma máquina de guerra cujas principais bases, armamentos e pessoal permanecem em plena operação. Quaisquer expectativas da oposição de que os ataques aéreos fossem destruir ou degradar o poder aéreo letal de Bashar al-Assad ou as bases onde seus aviões de guerra e helicópteros começam missões de bombardeio foram rapidamente frustradas. Os ataques dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França tiveram como alvo apenas as capacidades de produção de armas químicas de Assad.

O Pentágono disse que os ataques tinham como alvo três instalações - um centro de pesquisa na área de Damasco, supostamente ligado à produção e teste de tecnologia de guerra química e biológica; uma instalação de armazenamento de armas químicas a oeste de Homs; e um armazém de equipamentos relacionados a armas químicas e posto de comando, também a oeste de Homs. "Se é isso, Assad deve estar aliviado", escreveu Randa Slim, especialista do Instituto do Oriente Médio, com sede em Washington, no Twitter.

Enquanto isso, neste sábado, o exército sírio declarou que a cidade devastada de Douma "foi totalmente libertada" depois que o último grupo de rebeldes partiu. Douma foi o local do ataque de armas químicas em 7 de abril e também a última cidade controlada pelos rebeldes na região de Ghouta oriental, que já foi um grande bastião rebelde perto da capital. Milhares de rebeldes linha-dura capitularam em Douma após anos de cerco e uma campanha aérea e terrestre que matou centenas nas últimas semanas.

A reconquista de Douma efetivamente encerra uma rebelião de quase sete anos perto de Damasco e marca a vitória mais significativa de Assad desde que suas forças retomaram
a cidade de Alepo no fim de 2016. Com suporte dos aliados Rússia e do Irã, as forças armadas sírias devem voltar sua atenção ao restante do território detido pela oposição, nomeadamente no sul do país e na província de Idlib. Assad já consolidou o controle sobre a maior parte da Síria e seus principais centros populacionais.

Os ataques aéreos vieram como uma decepção para a oposição síria, com um porta-voz rebelde rotulando-os de "farsa". O líder da oposição Nasr Hariri disse que os ataques foram bem-vindos, mas apenas reforçaram a mensagem de que, embora não seja aceitável usar armas químicas, o governo pode continuar a "usar barris explosivos e bombas de fragmentação" com impunidade.

As capacidades de armas químicas de Assad - e exatamente o que foi atingido no sábado -
permanecem envoltos em mistério. Apesar do compromisso da Síria de abolir seu programa de armas químicas em 2013, as autoridades dos EUA dizem é "altamente provável" que Assad tenha mantido um estoque oculto. Informações coletadas de recentes ataques também sugerem que Assad tem uma "capacidade de produção continuada", o que foi proibido em 2013.

Monitores de guerra da Síria disseram que militares do país esvaziaram bases aéreas e moveram equipamentos antes dos ataques. O Pentágono disse no sábado que acredita que os ataques aéreos "atacaram o coração do programa de armas químicas da Síria", o que degrada significativamente a capacidade de usar essas armas novamente. Autoridades russas disseram que o dano foi mínimo, afirmando que todas as principais bases aéreas estão intactas e que as supostas instalações de armas químicas haviam sido abandonadas há muito tempo.

O capitão Adulsalam Abdulrazek, ex-oficial do programa químico da Síria, disse que os ataques provavelmente atingiram "partes, mas não o coração" da operação. Segundo ele, havia cerca de 50 armazéns com armas químicas antes de o programa ser desmantelado em 2013. Ele disse que acredita que aqueles armazéns, principalmente em áreas rurais, não sofreram grandes danos e que o programa foi apenas parcialmente desmontado porque Damasco não permitiu inspeções.

É improvável que os ataques tenham qualquer impacto real no resultado da guerra civil ou sirvam para levar Assad à mesa de negociação para discutir um acordo político, como muitos esperavam. "Isso irá impedir Assad de usar armas químicas novamente? Possivelmente, mas também porque ele essencialmente ganhou a guerra de qualquer maneira", escreveu Faysal Itani, membro sênior do Centro Rafik Hariri do Conselho Atlântico para o Oriente Médio. "Será que vai mudar alguma coisa? Para melhor ou pior, não." Fonte: Associated Press.

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