Vencedor do Prêmio Leon Cakoff, Vecchiali define-se como 'um franco-atirador'

Notícia
Espaço entre linhas+- ATamanho da letra+- Imprimir




Paul Vecchiali era garoto, tinha 6 anos quando a mãe o levou para ver Mayerling, a versão de Anatole Litvak, com Danielle Darrieux e Charles Boyer. Ele não tinha a menor noção do que era cinema nem como se fazia, mas surpreendeu a mãe, na saída, ao dizer que era o que queria fazer. O ano era 1936 e mais de 40 anos mais tarde, em 1978, Vecchiali, que já se tornara diretor, estava numa crise medonha. Não via futuro para ele no cinema, estava pensando em parar. Houve uma retrospectiva de seus ainda poucos filmes e ele ouviu - adivinhe de quem? Danielle Darrieux! - a intimação. "Nem pense em parar..."

Passaram-se mais 40 anos - quase - e Paul Vecchiali está na cidade, homenageado pela 41.ª Mostra. Nesta segunda-feira, 23, à noite, no Cinesesc, ele recebeu o Prêmio Leon Cakoff, que leva o nome o criador do evento. No início da tarde, havia se encontrado com o repórter. Emocionou-se ao falar sobre Danielle, a mítica estrela francesa que morreu na semana passada, com mais de 100 anos. Em Paris, após o Festival de Cannes, havia uma retrospectiva de Danielle na Filmoteca do Quartier Latin e repórter assistiu a muitos de seus filmes dirigidos por Henri Décoin, Julien Duvivier, Claude Autant-Lara e, claro, Max Ophuls. Tirando o último, os anteriores pertenciam à chamada velha onda do cinema francês e foram fustigados por François Truffaut em seu célebre artigo contra o "cinema de qualidade".

Nada como o tempo. "Hoje, eles estão voltando e estão sendo revalorizados, você sabe", diz Vecchiali. Aos 87 anos, ele não é nenhum velho blasé, que vive acomodado, curtindo as homenagens. Os olhos brilham. Lembra que foi crítico e escreveu uma enciclopédia de cinema justamente recuperando esses diretores dos anos 1930. O repórter conta quer viu duas vezes Madame De na retrospectiva da Filmoteca. Madame De! "É o mais belo dos filmes", concorda. Em maio, antes de Cannes, ele foi homenageado no IndieLisboa, e a cidade abrigava uma retrospectiva de Kenji Mizoguchi. O repórter estava lá. Reviu A Rua da Vergonha, O Intendente Sansho. "Pare, que vou chorar", diz Vecchiali. "Sansho é o filme da minha vida. Vi umas 200 vezes. Sei todos os diálogos", confessa.

Sua fama é de "franc tireur", franco-atirador. No Dicionário de Cinema, Jean Tulard observa que, trabalhando sobre uma diversidade muito grande de temas - "Não gosto de me repetir" -, Vecchiali exibe uma visão de mundo original, eminentemente subversiva, "na medida em que tudo, inato e adquirido, colabora para desvendar o real daquilo que o obscurece". Ele desmistifica outra coisa que diz Tulard - sobre a falta de recursos que aflige seu cinema, e o coloca na rubrica dos malditos. "Tive a chance, na minha vida, de fazer filmes de muito sucesso. Rosa la Rose, sobre prostituição, bateu recordes e os produtores queriam que eu repetisse a dose. Descartei de cara. Não faço cinema pelo dinheiro."

A quase totalidade de sua obra para cinema é formada por roteiros originais, mas ele adaptou Dostoievski - em Noites Brancas no Píer. Por falar em Noites Brancas, o repórter lembra o filme de Luchino Visconti - com Marcello Mastroianni, Maria Schell e Jean Marais. Vecchiali tem uma admiração irrestrita por Visconti - Sandra, ou Vagas Estrelas da Ursa, com Claudia Cardinale, é outro de seus grandes filmes. Mas, dos italianos, ele ama mesmo é Valerio Zurlini - Verão Violento, Dois Destinos. "Choro toda vez que vejo Sylvie abraçando os dois netos." Ainda sobre adaptações, Vecchiali diz que as dele foram principalmente para TV. Ri contando que deu a volta ao mundo acompanhando retrospectivas de seus filmes. "Sabe quantas (retrospectivas)? 174!" Até por ter sido, e ainda ser, crítico, sabe que tem filmes ruins. "Faz parte." O importante é que os bons são ótimos. Vecchiali apresenta em São Paulo seu filme mais recente, Os Sete Desertores, ou A Guerra a Granel. Provocativo, como sempre, o autor pode fazer sua a frase de Georges Bataille. A beleza será convulsiva, ou não (será beleza). Nos seus filmes, é.

AS DICAS DESTA TERÇA


Callado
Autora do belíssimo documentário Setenta, Emilia Silveira reflete sobre a vida e obra do escritor Antonio Callado. O filme divide-se em oito blocos temáticos que atravessam essa vida e, por meio de Callado, Emilia, na verdade, prossegue com sua investigação do Brasil após a ditadura cívico-militar. Haverá debate com a diretora. Espaço Itaú Frei Caneca 2, 22h.

Em Que Tempos Vivemos?
O próprio Walter Salles vai apresentar o longa inspirado pelo desastre ecológico de Mariana, em Minas. Grandes diretores como Salles e o chinês Jia Zhanke assinam os esquetes, e haverá debate após a exibição. Espaço Itaú Augusta Sala 1, 21h15.

Lote 35
Ator de grandes filmes (de Patrice Chereau e Philippe Garrel), Éric Caravaca assina esse filme confessional, inspirado pelo segredo mais bem guardado de sua família. Éric teve uma irmã que morreu ainda menina, e cuja memória foi apagada por seus pais, que nunca guardaram uma foto dela sequer. Por quê? Cinearte 2, 18 h.

Padre e a Moça
Produção de 1966, o longa que Joaquim Pedro de Andrade adaptou do poema de Carlos Drummond de Andrade (Negro Amor de Rendas Brancas) estreou no ano seguinte - portanto, há 50 anos. Com belíssima fotografia de Mário Carneiro, montagem de Eduardo Escorel e trilha de Carlos Lyra, é considerado um dos grandes filmes do Cinema Novo. A Mostra exibe o filme como parte da homenagem aos 80 anos de Paulo José. E olhem que lindo - Paulo e Helena Ignez, que fazem o padre e a moça, apresentarão a sessão desta noite. Vão Livre do Masp, 19h30.

Viver e Outras Ficções
Jo Sol dirige o longa espanhol sobre homem que deixa o hospital psiquiátrico, mas precisa de uma nova loucura para seguir vivendo num mundo que se tornou estranho para ele. Frei Caneca 3, 21h30.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Notícia



Ator Drake Bell está desaparecido e polícia da flórida faz apelo para encontrá-lo

O ator e cantor Drake Bell, de 36 anos, foi dado como desaparecido pelo Departamento Policial de Daytona Beach, na Flórida, Estados Unidos, nesta quinta-feira, 13...