Ibovespa vai ao menor nível desde 16/12, em baixa de 1,01%, a 103,3 mil

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Renovando mínimas em direção ao fechamento, o Ibovespa, mesmo com o sinal positivo de Nova York à tarde (e nas máximas do dia por lá), não conseguiu evitar a quinta perda consecutiva, igualando, em extensão, série negativa de outubro passado. Nesta quinta, 2, o índice oscilou entre mínima de 103.320,59, quase no fechamento, e máxima de 104.912,41 pontos, saindo de abertura aos 104.374,89. No encerramento, mostrava queda de 1,01%, aos 103.325,61 pontos, no menor nível de fechamento desde 16 de dezembro, então aos 102.855,70 pontos. O giro de hoje ficou em R$ 32,2 bilhões, mostrando recuperação desde anteontem. Na semana, o Ibovespa cai 2,34%; no mês de março, cede 1,53% e, no ano, recua 5,84%.

O lucro recorde da Petrobras em 2022 não foi o suficiente para impedir nova correção nas ações da estatal, acentuada no fim do dia, com a ON em baixa de 2,75% e a PN, de 2,61%. Apesar do balanço sonoro, os investidores miram o horizonte para o desempenho da empresa e a distribuição futura de dividendos, na esteira dos reiterados sinais de incômodo, de integrantes do PT e do governo, quanto à lucratividade - que beneficia, não obstante, o maior acionista, a União.

Em teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, deu hoje novas indicações de que não deve seguir a política de preços de paridade de importação para combustíveis, o chamado PPI. Sem dar detalhes, Prates afirmou que, sob sua gestão, a empresa vai buscar praticar o "melhor preço doméstico", diferente portanto do PPI.

"Devemos usar a nossa competitividade, nossas refinarias, nossa logística doméstica, o fato de ser a empresa líder no país, não monopolista, para buscar esse melhor preço", disse Prates. "Vamos voltar a praticar o melhor preço doméstico para os nossos produtos, usando todas as ferramentas para nos tornar atrativos para os nossos clientes."

"Nada que o mercado já não soubesse, mas a perspectiva para Petrobras - apesar do lucro recorde de 2022 - não é favorável, com a revisão da política de preços e também da distribuição de dividendos, que favoreceu inclusive o lado fiscal, nos últimos anos, pela geração de receita (para a União). O governo parece disposto a abrir mão disso, perdendo receita. O sinal é ruim, fazendo lembrar o governo Dilma (Rousseff)", observa Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

"A questão fiscal não é de hoje, volta de tempos em tempos, e março será um mês importante, para o bem ou para mal, a depender do formato do arcabouço que vier a ser anunciado pelo governo. Os 'valuations' permanecem descontados há muito tempo, mas, para destravar valor na Bolsa, será fundamental a credibilidade do arcabouço fiscal, inclusive para que o Banco Central possa trazer a taxa de juros para baixo", acrescenta.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje que a pasta vai concluir esta semana os trabalhos sobre a nova âncora fiscal, e as conclusões serão levadas para aprovação do presidente Lula. De acordo com Haddad, a ideia é que o novo arcabouço seja de conhecimento público ainda em março para que o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) seja enviado com formato final, atualizado pela nova regra fiscal, evitando "retrabalho" por parte do Congresso, reportam os jornalistas Giordanna Neves e Antonio Timóteo, do Broadcast em Brasília.

Mais cedo, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, reforçou a pressão do governo sobre o Banco Central para a queda de juros. "Não queremos nenhuma generosidade, mas um gesto positivo a favor do Brasil na próxima reunião do Copom Comitê de Política Monetária do BC", disse a ministra, ao comentar os resultados do PIB, outro destaque do dia além das reverberações em torno da Petrobras.

O PIB brasileiro teve expansão de 2,9% em 2022, um pouco abaixo do consenso para o ano - e em leitura negativa, na margem, para o quarto trimestre. O presidente Lula comentou que o resultado do Produto Interno Bruto, divulgado pela manhã, mostra que a economia brasileira não cresceu "nada" no ano passado. Segundo ele, o compromisso agora é fazer o País voltar a crescer e com investimentos, para gerar empregos e renda. As declarações foram feitas durante o relançamento do programa Bolsa Família, em Brasília.

"O PIB do quarto trimestre veio mais ou menos em linha com o esperado, em desaceleração nítida desde o fechamento dos três primeiros meses do ano, quando o crescimento se acelerou a 1,3%. O último trimestre de 2022 trouxe contração de 0,2% - no mesmo período de 2021, houve crescimento de 1,1%", observa Bruno Mori, economista e sócio-fundador da consultoria Sarfin. Ele ressalta que a desaceleração até a contração reflete o efeito defasado das elevações nos juros - o tempo entre a efetivação dos aumentos da Selic e sua transmissão para o ritmo de atividade.

"As quedas na Indústria e na Formação Bruta de Capital Fixo são reflexo desse quadro. Percebe-se um esgotamento dos benefícios da reabertura da economia, tendo em vista a desaceleração da expansão do consumo das famílias e dos serviços", aponta em nota Rafael Perez, economista da Suno Research. "Os juros elevados e o menor crescimento da economia global devem pesar negativamente (em 2023), porém o agronegócio e as recentes medidas de estímulo ao consumo devem sustentar um PIB próximo de 1% para este ano", acrescenta Perez.

"Embora a inflação tenha dado sinais de moderação (no Brasil), não será fácil para o BC convergir para a meta (do Conselho Monetário Nacional), com o Focus estimando Selic a 12,75% para o fim do ano. Perspectiva para a Bolsa em março continua difícil: senão negativa, ao menos lateralizada", diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos. Tal cenário tende a favorecer, como opção defensiva, as ações de "empresas com geração de caixa constante, o que facilita na alocação de portfólio, como bancos e as de saneamento e energia, consideradas mais seguras em um cenário ainda de estresse", acrescenta Meira.

Hoje, contudo, mesmo parte dessas empresas não conseguiu escapar do sinal negativo, especialmente os grandes bancos, onde as perdas em nomes como BB (ON -4,03%), Itaú (PN -3,28%), Bradesco (ON -1,64%, PN -1,31%) e Santander Brasil (Unit -2,70%) seguraram o Ibovespa, assim como as dos pesos-pesados das commodities, Petrobras e, em menor medida, Vale (ON -0,22%). Na ponta do índice de referência, destaque para Qualicorp (-5,13%), Banco do Brasil (-4,03%), 3R Petroleum (-4,02%) e Rede D'Or (-3,90%). No canto oposto, EDP Brasil (+14,72%), BRF (+3,85%), Braskem (+3,65%) e Embraer (+2,90%).

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