Condephaat rejeita estudo de tombamento e abre caminho para privatizar Ibirapuera

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O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), órgão estadual que decide sobre o tombamento de imóveis e outros bens paulistas, rejeitou, em reunião realizada na segunda-feira, a abertura de um processo de tombamento do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, em São Paulo. A decisão abre caminho para que a estrutura seja concedida à iniciativa privada e passe por um amplo processo de reformulação.

Segundo o edital de privatização do complexo, no lugar da pista de atletismo deverá ser criada uma arena multiuso com capacidade para 20 mil pessoas. A nova estrutura receberia eventos esportivos e culturais. Já o ginásio do Ibirapuera seria transformado em um shopping center, enquanto que no lugar do complexo aquático seria construída uma torre comercial anexa a um hotel.

A expectativa é que a empresa que tomará conta do complexo seja escolhida em fevereiro de 2021. O concessionário deve construir, também, pista de skate e playground no local. Segundo o governo estadual, atualmente, a arrecadação com aluguéis do complexo não chega a R$ 5 milhões. Com isso, o déficit é de R$ 10 milhões por ano, já que o Estado gasta, em média, R$ 15 milhões com a manutenção anual do local.

"A intenção é dotar São Paulo de um equipamento que atende às necessidades atuais das atividades esportivas por meio de sua modernização, contemplando a renovação da infraestrutura existente à sua reciclagem tecnológica frente às restrições financeiras do poder público", disse o secretário de Esportes do Estado de São Paulo, Aildo Ferreira, que participou da reunião virtual. "Os equipamentos esportivos encontram-se ultrapassados, insatisfatórios, muitos sem condições de utilização", acrescentou.

Caso o processo de tombamento fosse aprovado, o plano de concessão à iniciativa privada seria freado. Mas 16 conselheiros votaram contra, enquanto que oito foram favoráveis em reunião realizada pelo Condephaat na segunda-feira. A superioridade de negativas em relação à preservação do complexo reflete uma decisão do início de 2019 do governador João Doria, que alterou, por meio do decreto 64.186, a composição do Condephaat.

Até abril do ano passado, o órgão era composto por 30 conselheiros, sendo quase a metade (14) de universidades. Após o decreto, esse número foi reduzido para cinco de um total de 24 integrantes. Os governo conta com 15 representantes atualmente. Além de aumentar a influência estadual no conselho, o decreto previa que representantes de universidades e da sociedade civil seriam escolhidos por Doria a partir de listas tríplices.

Na reunião, os conselheiros que representam as universidades - Unifesp, USP, Unesp, Unicamp e Museu de Arqueologia e Etnologia da USP - votaram a favor do relatório do conselheiro Renato Luiz Sobral Anelli, representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), pelo estudo de tombamento do completo. Victor Hugo Mori, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e Lilian Vogel, profissional de notório saber em patrimônio imaterial, também foram favoráveis ao estudo.

O pedido de tombamento foi protocolado por um morador da região em 2017, mas a solicitação só foi encaminhada em 2019 à Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico (UPPH), braço executivo do conselho e que é subordinada à Secretaria Estadual da Cultura e da Economia Criativa. O Condephaat é responsável pelo tombamento de mais de 500 imóveis no Estado.

Os integrantes do conselho que foram favoráveis ao tombamento apresentaram na reunião um abaixo-assinado com 5.000 nomes que reforçam a importância da preservação do complexo. Além disso, somaram-se às assinaturas manifestações de atletas e ex-atletas e uma carta de ex-presidentes do Condephaat. Apesar dos esforços, a decisão contrária ao tombamento foi mantida.

Ao Estadão, a Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo afirmou que os atletas que utilizavam as estruturas do complexo poderão utilizar as dependências da Vila Olímpica Mário Covas, no Butantã, e do Complexo Esportivo Horácio Baby Barioni, na Água Branca. Segundo a pasta, nenhum atleta treina ou utiliza o alojamento do local desde o início da pandemia da covid-19.

Entre maio e setembro deste ano, o local abrigou um hospital de campanha, construído para acomodar pacientes com covid-19. No mês passado, a reportagem visitou o complexo e constatou que boa parte da estrutura está danificada. Mesmo sendo certificada pela World Athletics para receber competições internacionais, a pista de atletismo, por exemplo, está destruída e não tem condições de receber treinos ou campeonatos.

O Conjunto Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães tem uma área total de 105 mil metros quadrados, composto por cinco áreas distintas: ginásio do Ibirapuera, estádio Ícaro de Castro Mello, Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo, Palácio do Judô e quadras de tênis e prédios de administração.

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